
Na África, vários retalhos de pano enrolados em arame pode ser um
valioso tesouro. São essas bolas improvisadas que as crianças de
diversos países do continente usam para jogar futebol. A fotógrafa belga
Jessica Hilltout decidiu realizar um projeto fotográfico que registra a
importância desses objetos para as crianças.
Jessica atravessou dez países africanos para registrar imagens de
jogadores, partidas e claro, as bolas feitas dos mais diversos e
criativos materiais. Ela teve a ideia do projeto, chamado de AMEN,
inspirada pela Copa do Mundo, e quis mostrar que a paixão pelo esporte é
maior que bens materiais.

Janeiro de 2008. Concluindo um trabalho em Madagascar, a fotógrafa
belga Jessica Hilltout, 33 anos, recebe um telefonema do pai. Amante do
futebol e da África, ele sugere à filha para fazer uma viagem pelo
continente, clicando moradores jogando bola, com o intuito de mostrar ao
mundo como aquelas pessoas amam o esporte inventado pelos britânicos,
apesar de tanta adversidade. Ela aceita. Volta para casa, em Bruxelas, e
logo pega um voo até a Cidade do Cabo. No principal destino turístico
sul-africano, decide iniciar a jornada.
Sem saber quanto tempo passaria na estrada, onde ficaria e quanto
gastaria, decide comprar um Fusca velho, mas resistente. Instala um
bagageiro no teto para três pneus sobressalentes e dois galões de
gasolina. O carro ainda ganha reforço na suspensão. No interior, além
das roupas, sapatos e material de higiene, ela leva uma máquina
Hasselblad com uma lente de 80 milímetros, 300 rolos de filme, uma
câmera digital, diário de bordo, impressora e bolas de futebol novas.
À procura do significado do futebol para o continente, Jessica parte.
Roda 15 mil km por quatro países vizinhos da África do Sul. Retorna à
Cidade do Cabo para deixar o Fusca, já com o motor cansado, e parte para
Accra, em Gana, onde aluga uma caminhonete moderna. Nela constrói uma
cama e quatro caixas no bagageiro: uma para bolas de futebol, uma para
comida e duas para a roupa e o material fotográfico.
A casa móvel a leva
por 5 mil km em seis países da África Ocidental.

Em cada aldeia, não importa o quão longe, Jessica encontra pessoas
jogando futebol ao amanhecer e ao entardecer. Em pequenas vilas, se
depara com até cinco campos de futebol. Em uma delas, a 500km da estrada
principal, moradores caminham três dias para assistir a uma mera pelada
entre aldeias vizinhas.
Os atletas não dispõem de material adequado. A maioria joga descalço
ou com chuteiras rasgadas. Algumas, com o nome do time ou craque
preferido pintado à mão. O mesmo se vê nas camisetas, incluindo o rosto
do craque desenhado de forma tosca, ingênua.
Mas o que mais chama a atenção da fotógrafa são as bolas usadas nos
jogos. A maioria, disforme, feita pelos próprios atletas, com materiais
encontrados na comunidade. No deserto, por exemplo, eles recorrem a
roupas velhas. Em cidades, usam sacos plásticos de lixo. A menor vista
por ela é feita de meia-calça.
Além de fotografar os atletas e seus campos de jogo, a belga troca as
bolas fabricadas pelas artesanais. Após nove meses de viagem por 10
países, Jessica Hilltout retorna à África do Sul, com 35 bolas caseiras e
milhares de fotografias. As bolas improvisadas tornam-se a essência da
viagem.
http://www.revistaafro.com.br/sem-categoria/fotografa-registra-a-paixao-pelo-futebol-na-africa/
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