Violadas, espancadas, assassinadas, abortadas.
Na Índia, muitas mulheres são espancadas todos os dias.
“Todos os homens
batem nas mulheres e um dia eu vou fazer o mesmo”, disse um rapaz de
oito anos, Sujan Singh, durante uma reunião da Jagrit Youth numa aldeia
do estado indiano do Uttar Pradesh. A organização promove encontros
entre jovens para os pôr a falar livremente das relações entre géneros. O
objetivo é mudar pensamentos e comportamentos num país onde a
violência contra as mulheres é endémica.
À saída do encontro — que uma responsável da Jagrit descreveu no Guardian
—, Sujan estava confuso. O que lhe ouvia parecia-lhe justo, que os
homens e as mulheres devem ser tratados da mesma maneira. Mas a
sabedoria dos homens da família é feita de experiência: “As raparigas
são parvas e tontas e temos que lhes bater todos os dias para ver se
lhes entra algum tino na cabeça. O meu pai e os meus irmãos mais velhos
dizem isto todos os dias”.
Na Índia, as mulheres são espancadas, violadas e assassinadas todos os
dias. A violência de género é tratada como inevitável e difícil de
erradicar. Tão difícil, que pouco se falou nela na campanha eleitoral.
Apenas um partido, o Congresso (esquerda), pegou no tema, com o
candidato, Rahul Gandhi, a anunciar que se ganhar, e for
primeiro-ministro, avançará com um projeto de lei para que 30% dos
deputados do Parlamento nacional sejam mulheres. Do lado adversário, o
partido nacionalista Hindu (BJP), liderado por Narenda Modi — que vai
ganhar, dizem as sondagens —, o tema foi omitido; a economia e o
regresso da Índia aos palcos mundiais foram os temas de eleição.
Estão a ser feitas grandes declarações
sobre a Índia ter de se tornar numa grande potência”, disse Rahul
Gandhi num comício. “Qual super-potência, qual quê. Antes de falarmos em
superpotência, temos que fazer com que as mulheres se sintam seguras
dentro de um autocarro. Esta é uma luta pela mudança das mentalidades em
que cada um de nós, homens e mulheres, temos que desempenhar um grande
papel”.
A guerra da Índia contra as mulheres — como lhe chama o jornalista
indiano Ram Mashru, que escreveu vários artigos sobre o tema em The Diplomat — é um conflito de várias frentes.

Uma violação a cada 28 minutos
Segundo o
departamento indiano de registo de crimes, em 2011 houve 24.206 queixas
por violação, o que equivale a uma violação em cada 28 minutos. “Este
número aflora apenas o problema, uma vez que a maior parte dos casos de
violência sexual não é denunciada porque as vítimas optam por manter o
silêncio por muitas razões, incluindo o estigma social que está agarrado
a uma violação. Muitas vezes questiona-se o carácter da vítima,
pergunta-se se estava na rua à noite ou se o seu comportamento provocou a
violação”, explica Ram Mahru nos seus artigos que alertam para a
relação entre demografia, economia, taxa de desemprego (300 milhões,
sobretudo jovens) e política na guerra contra as mulheres.
A
agressão e a violência sexual é, na maior parte das vezes, feita dentro
da família dos maridos (quando casam, por norma muito jovens, as
mulheres perdem o contacto com a família de origem). E os investigadores
dizem que o trabalho a fazer é transversal e não se pode limitar à
aprovação de leis, como aconteceu depois da violação, por um grupo de
homens, de uma estudante num autocarro em Nova Deli, em Dezembro de
2012. Desde então, muitos outros casos polêmicos apareceram com grande
destaque nos media. Há que mudar o comportamento dos polícias, dos
juízes que são brandos ou não criminalizam estes crimes, dos políticos
que preferem não abordar o assunto.

A guerra contra as mulheres
começa também nas mulheres. Na Índia, dizem as estimativas de
organizações como a UNICEF, há 25 milhões de mulheres “desaparecidas” —
não é um fenómeno localizado, existe em muitos países e, em todo o
mundo, são 200 milhões as mulheres “desaparecidas” (números das Nações
Unidas).
Desapareceram antes de nascer, nos abortos selectivos que
na Índia são cada vez mais, apesar de proibidos por lei, ou foram
mortas ao nascer por serem raparigas e um fardo para as famílias que
valorizam os filhos homens que, quando casam, trazem uma mais-valia para
dentro de casa (a mulher) e não pagam dote (uma prática também proibida
por lei mas que continua a ser praticada).
“Estrangulei-a quando nasceu”, testemunha uma mulher indiana no impressionante documentário It’s a girl, de Evan Grae Davis (É menina,
está disponível no Youtube). Numa casa indiana, olhamos para um
bocadinho de terra onde as mulheres da família enterraram as filhas que
foram mortas à nascença e ouvimos uma mulher mais velha contar que as
mulheres dos filhos têm que matar porque ela também matou.
Manifestantes repudiam violência contra mulher e pedem pena de morte para estupradores em protesto na capital indiana


Violação de jovem indiana, que acabou por morrer, revoltou
Nova Deli e causou indignação dentro da Índia e fora dela
Fotografia © Reuters
Estrangeiras prestam homenagem a indiana que morreu após estupro coletivo em ônibus
(Foto: Manish Bhandari/AP)
O estupro e assassinato de uma jovem em Nova Delhi em dezembro de 2012, seguido por dois ataques a mulheres estrangeiras, alterou a
visão que os turistas têm da Índia e levou a uma diminuição
significativa no número de visitantes de fora – principalmente mulheres –
, afirma um estudo.

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26109/milhares+de+pessoas+protestam+contra+violencia+a+mulheres+na+india.shtml
http://www.publico.pt/mundo/noticia/todos-os-homens-indianos-batem-nas-mulheres-e-um-dia-eu-vou-fazer-o-mesmo-1631150
Nenhum comentário:
Postar um comentário
AGRADEÇO SUA VISITA.
VOLTE SEMPRE.